10.8.10

Noite além.

Ela não entendia.
Não havia explicações racionais para o que acontecia.
Como as coisas simplesmente mudam de uma hora para outra?
Ou não mudam? Sempre foram assim, dessa mesma cor? Apenas brilham mais?
Mais uma vez caía no erro de racionalizar. Sabia que não levaria à nenhum lugar.
Ao menos não a algum que ela quisesse ir.
Era admirável: alguém jogava o mesmo jogo que ela. E da mesma forma.
Intenso. Apaixonado. Descontrolado.
Tentando entender. Mas desistindo em seguida.
Afinal, quem precisava de explicações, ao menos, por enquanto?
Mas o medo, ser cruel e sorrateiro, vinha de sabe-se lá d'onde.
Medo disso mudar de novo.
Medo de perder. E não mais encontrar aquele sorriso.
Mas deixou o suspiro escapar. Deixou-se levar pelas músicas, pela vida que sentia pulsar, pelo sentimento sem-nome que só acrescentava, muda para mais, muda para melhor.
Essa voz insistente que pergunta: melhor pra quem?
Impaciente, enxotou as dúvidas como quem espanta um inseto.
De que importa racionalizar?
Desistiu. Por quanto tempo, quem imagina?
Mas agora, agora se deixou embalar pelo calor. Pela emoção.
E que venham os amanhãs com suas incertezas.
Por hoje bastava sentir. E só isso.


Céu sem estrelas,
Sem lua,
De nuvem, alguma.
Era noite.
Noite escura.
Mas quente.
Suspirava
E bastava.
Não sempre.
Ás vezes, perto
Necessário.
Perto demais.
Quente.
Mas,
Era noite escura.
Era noite.
De nuvem, alguma.
Sem Lua.
Céu sem estrelas.
Mas havia um coração.
E haviam dois.
E havia.
E nada mais importava.
Não por enquanto.



22.7.10

Foi!

E um dia simplesmente passou.
Simples assim.
Ela não sabia bem ao certo quando, nem como.
Mas um dia, simplesmente se deparou com a ausência.
Olhou as fotos esperando sentir o familiar aperto de saudade no peito.
Nada!
Leu as palavras, esperando sentir uma gota de ciúme... e nada!
Meio sádica, colocou aquela música que tanto lembrava ele.. e, nem sinal de nada.
Fechou os olhos e lembrou da voz, das músicas, com mais intensidade. Um levo tremor, suave. Mas assim leve como veio, assim foi. Abriu os olhos e sorriu.
Estava livre. Do passado, das promessas, das cartas e das letras. Das brigas e ciúmes. Dos beijos e das noites.
E a sensação foi como quando se tira antigas roupas e bagunças dos armários. Você observa orgulhoso sua obra e anseia pelo que virá preencher aquele lugar.
Um sorriso se espalhou pelo seu rosto, um brilho novo nos olhos. Um suspiro: Era isso. Não mais doeria ouvir as melodias que embalavam aqueles dias. Agora, se havia algum sentimento, era apenas a alegria de ter vivido aquela época.
E seu coração bateu mais suavemente, leve.
Uma prece se formou em sua mente. Que encontrasse aquele que um dia foi o bem amado. E que ele estivesse bem. Pois agora, ela havia finalmente se livrado. Esperava que ele também não a tivesse guardado na memória com dor. Somente com aquela leveza bonita de um amor que existiu, alcançou os céus no seu ápice, mas virou outra coisa. Só saudade boa, não aquela vontade irremdíavel e urgente de reviver tudo.
E os planos parao futuro finalmente se tormaram mais firmes, mais felizes, sem falsos medos.
E a noite se fez mais feliz naquela hora.

17.2.10

Cores

Resolvi colorir uma noite fria
Pintei rubros, teus lábios
Deslizei o dedo pelo papel
Espalhando o vermelho-sangue
Uma superfície lisa e fria me recebeu.
Suspirei resignada porque meu toque rejeitou a temperatura.
Fechei os olhos pensando que isso não daria certo.
Mas como então manter longe de mim a chuva lá fora?
A mesma que me lembrava da solidão daqui de dentro?
As tintas espalhadas sobre a mesa me encararam.
Misturei duas cores
Tentando imitar a cor dos teus cabelos.
Desenhei caracóis e sorri ante a diferença.
Já tinha superado a superfície
Mas o cheiro que vinha até mim era extremo
Tão diferente do perfume envolvente dos teus cachos...
Pensei então nos olhos.
Mais um desafio para a paleta de cores
Sem falar no brilho
E nas emoções.
Como desenhar o calor que vejo no teu olhar?
Desisti com meio desenho acabado no espaço em branco.
Tão típico meu, não?
E encarando aquele vazio que eu não conseguiria preencher por mim mesma, saí.
A chuva fina e o vento frio me receberam
Levantei os olhos e entendi
Mesmo não estando ao meu lado naquele momento
De alguma forma mágica, você se fez presente em mim.
Abri os braços e recebi mais intensamente a interpérie
E me restou sorrir
Eu te tinha.
E isso bastou para deixar o restante do lado de fora.
Sempre bastaria.