17.2.10

Cores

Resolvi colorir uma noite fria
Pintei rubros, teus lábios
Deslizei o dedo pelo papel
Espalhando o vermelho-sangue
Uma superfície lisa e fria me recebeu.
Suspirei resignada porque meu toque rejeitou a temperatura.
Fechei os olhos pensando que isso não daria certo.
Mas como então manter longe de mim a chuva lá fora?
A mesma que me lembrava da solidão daqui de dentro?
As tintas espalhadas sobre a mesa me encararam.
Misturei duas cores
Tentando imitar a cor dos teus cabelos.
Desenhei caracóis e sorri ante a diferença.
Já tinha superado a superfície
Mas o cheiro que vinha até mim era extremo
Tão diferente do perfume envolvente dos teus cachos...
Pensei então nos olhos.
Mais um desafio para a paleta de cores
Sem falar no brilho
E nas emoções.
Como desenhar o calor que vejo no teu olhar?
Desisti com meio desenho acabado no espaço em branco.
Tão típico meu, não?
E encarando aquele vazio que eu não conseguiria preencher por mim mesma, saí.
A chuva fina e o vento frio me receberam
Levantei os olhos e entendi
Mesmo não estando ao meu lado naquele momento
De alguma forma mágica, você se fez presente em mim.
Abri os braços e recebi mais intensamente a interpérie
E me restou sorrir
Eu te tinha.
E isso bastou para deixar o restante do lado de fora.
Sempre bastaria.

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